A primeira vez que peguei no volante de um automóvel foi no início da década de 1970, quando tinha meus quinze anos de idade. Meu pai estava me dando aulas teóricas de volante durante algum tempo até que, de forma abrupta e inesperada, parou o carro no acostamento da Rodovia Antônio Heil e me passou o volante. Diante do nervosismo de toda a família, principalmente de minha mãe, a aventura de dominar pela primeira vez o volante do AeroWillys não demorou mais do que uns dez quilômetros. Depois, tive oportunidade de pegar no volante de uma Kombi que meu irmão mais velho, Ilson, trazia para casa quando trabalhava em uma empresa de telefonia terceirizada da Telesc. Ao fazer dezoito anos comprei diversas motos de pequeno porte, começando com uma Mobylette e, depois, uma Yamaha dois tempos de oitenta cilindradas. A partir daí foi um sucessão de fuscas … A carteira de motorista veio sem muito esforço, fazendo o teste de volante e cumprindo a burocracia de praxe.

Mas, no mês de junho de 2022, fui operado do ombro e fiquei impossibilitado de dirigir por alguns dias. Diante da necessidade de viajar até Tubarão convidei meu amigo de viagens e literatura, Isaque de Borba Corrêa, para dirigir o meu carro até o Sul do Estado. Durante a viagem, nos trajetos de ida e volta, Isaque começou a repassar pra mim sua experiência no volante na condição de proprietário de taxi em Balneário Camboriú. Primeiro deu uma boa aula sobre ‘direção defensiva’. Uma aula cuja parte teórica tive na autoescola quando da renovação de minha carteira de motorista. Mas, a aula prática de Isaque realmente foi um diferencial a ponto de, hoje, me sentir mais confiante ao volante.

Ainda durante a viagem Isaque foi demonstrando, com exemplos bem didáticos, como dirigir visando – além da segurança com a adoção de uma direção defensiva – à economizar combustível. Sua técnica ao volante do meu carro fez com que gastasse metade do combustível que usualmente costumo gastar. Desde que retirei o meu carro Fiat Strada da concessionária, apesar de ser zero quilômetro, sempre reclamei que ele era muito gastador. Cheguei a reclamar na concessionária nas vezes em que ali estive para as revisões obrigatórias e o mecânico argumentou que o carro sempre gasta mais no período em que está ‘amaciando o motor’. Tudo bem, deixa pra lá.

A verdade é que chegava a gastar um terço de tanque para ir de Itajaí à minha casa de praia em Bombinhas; quase um tanque de gasolina para ir a Florianópolis; um montão de combustível para ir à Curitiba …. era normal gastar um tanque de gasolina por semana só andando dentro da cidade e fazendo pequenos percursos entre Itajaí, Balneário Camboriú …. Na viagem para Tubarão, passando pela Lagoa de Ibiraquera e a cidade de Laguna, andando sem parar durante dois dias, o Isaque não gastou um tanque de gasolina completo. Um feito memorável. Se fosse eu ao volante teria gasto dois tanques de gasolina, um para ir e outro para voltar. Aliás, essa era a programação que tinha feito para a viagem.

O primeiro detalhe que me chamou atenção na forma como ele dirigia era sua atenção ao volante. Ele realmente, não obstante conversar normalmente comigo, mantinha-se atento aos acontecimentos da estrada. Muito do que fazia era uma resposta antecipada daquilo que previa que outros motoristas iriam fazer. Nisso resultava que ele não acelerava [gasto de mais combustível] por prever que teria de desacelerar logo ali na frente. Passar marcha na hora certa, aproveitar as declividades do terreno para ajudar na aceleração natural, manter distância segura do carro da frente para evitar o uso do freio, buscar a velocidade ideal para cada tipo de estrada … enfim, recebi uma aula completa de um profissional do volante que mudou o meu conceito de dirigir.

Na verdade, hoje, considero que aos sessenta e cinco anos de idade, dirigindo desde os quinze anos, posso dizer que aprendi a dirigir. Vivendo e aprendendo.