Lendo o livro do memorialista Juventino Linhares ‘O que a memória guardou’ fiquei observando as palavras que eram de uso comum até a década de 1960 e que foram caindo no desuso pela população em geral e, até mesmo, para os jornalistas. Entre estas palavras que ficaram velhas destaco: alcaide [prefeito], logradouro [rua, praça], lazareto [leprosário], nosocômio [hospital], carreira [raia de corrida], facultativo [pessoa formada em faculdade], botica [farmácia]., datilógrafo [digitador].
Mas, em compensação, a nossa vida é invadida por novas palavras diariamente. Principalmente com a Era Digital, foi necessária a criação de novos termos que dessem conta de atender a uma nova realidade. Cada nova tecnologia exige novas palavras. Como o uso de novas tecnologias passou a ter uma velocidade alucinante, as palavras correspondentes a cada uma também surgem em ritmo alucinante. CD, DVD, drone, pendrive, HD externa, bluetooth …. são novos termos para novas tecnologias. Mas temos também palavras antigas que mudam de sentido para poder dar conta de denominar uma nova tecnologia. É o caso, de ‘celular’ e ‘satélite’.
Não faz muito tempo nós incorporamos o termo ‘fake news’ no nosso novíssimo vocabulário para expressar a ideia de que uma informação era falsa. Não bastava a palavra ‘mentira’ ou o termo composto ‘notícia falsa’. De uns tempos para cá deram para invadir nosso cotidiano termos com ‘voucher’ e ‘cachbak’. Todas as propagandas acabam utilizando esses termos para tentar ‘fidelizar’ os clientes a uma determinada marca. Agora, durante o processo eleitoral de 2024, emerge dos labirintos da política partidária uma tal de ‘deepfake’. Segundo consta, seria o uso de Inteligência Artificial para manipular a imagem e/ou a voz de uma pessoa, fazendo com que ela pareça dizer ou fazer algo que comprovadamente não fez. Manipulação de imagem com qualidade de realidade.
A língua oficial da Era da Inteligência Artificial é a língua inglesa. Disso ninguém tem dúvida. Cada tempo tem sua língua oficial impregnando as demais línguas mundo afora. No tempo de Machado de Assis era comum introduzir termos franceses no texto. No tempo de Padre Antônio Vieira era impossível ser um grande orador sem intercalar no texto algumas máximas latinas. Nisso o Brasil tem um grande prejuízo, porque abriga gerações sucessivas de pessoas que falam apenas uma língua, sendo que a maioria sequer a domina de forma razoável. Encontrar uma pessoa bilingue no Brasil é mais raro do que encontrar pessoas que dominam mais de três línguas na Europa. Isso se deve à nossa realidade colonial de criar o ‘espírito nacional’ e o conceito de ‘pátria’ entre nosso próprio povo. [Magru Floriano]