Neste ano de 2022 já ocorreram três tempestades fortes, com rajadas de vento que alcançaram velocidade próxima de cem quilômetro por hora. Nossas sombrinhas foram estraçalhadas, telhados e coberturas voaram, outdoors foram ao chão e grandes placas publicitárias tiveram suas bases retorcidas, árvores foram arrancadas pelas raízes e jogadas sobre a fiação elétrica deixando milhares de consumidores sem energia por muitas horas. Mas as pessoas continuam fazendo de conta que não está acontecendo nada de extraordinário com o clima e a natureza, tentando tocar a vida dentro do que consideram a normalidade.

A verdade é que o clima está mudando. E mudando rapidamente. A temperatura está aumentando e a natureza já está reagindo de forma inequívoca. Enquanto a Floresta Amazônica está sendo devastada para dar lugar a pasto para criação de gado e para os grandes campos de plantação de soja, as grandes cidades estão asfaltando e cimentando tudo, retirando árvores das avenidas e sombreando toda a área urbana com prédios construídos um ao lado do outro, como favelas de sótãos e cortiços com elevadores. A cidade não respira. Os prédios formam corredores que facilitam o ‘encanamento’ do vento, tornando tudo ainda mais perigoso para os poucos que se aventuram a andar pela rua nesses dias tempestuosos.

O mais interessante é perceber que as empresas de outdoors continuam mantendo as mesmas técnicas rudimentares de décadas passadas, como se nada estivesse acontecendo de novo. As placas de zinco – postadas às margens das rodovias – são afixadas em cavaletes rudimentares feitos com restos de madeiras da construção civil. As coberturas dos postos de gasolina continuam recebendo placas de zinco finas e as placas publicitárias dos estabelecimentos comerciais são afixadas em uma base de alumínio que não resiste a um ventinho de cinquenta quilômetro por hora. Mesmo os grandes outdoors luminosos que são afixados em totens de ferro, aparentam uma falsa solidez estrutural – já que não foram projetados para ventos com velocidade superior a cem quilômetros por hora. Tudo isso voa sobre as cabeças das pessoas, transformando em uma grande aventura a simples ida à esquina para comprar pão.

Pior do que isso é perceber que está começando a se tornar corriqueiro ouvir relatos de janelas que despreendem dos edifícios e caem próximo aos transeuntes e carros. Com ventos acima de cem quilômetros por hora tudo voa: sombrinha, telhado, placas de publicidade e janelas. E as tempestades estão chegando com velocidades cada vez maiores, tornando corriqueiras expressões como tufão, tempestade tropical e extratropical, furacão, ciclone … Palavras que eram utilizadas, até bem pouco tempo, apenas para eventos climáticos que ocorriam na Ásia e Caribe, e, que víamos apenas na televisão.

O clima está mudando rapidamente e nossa mentalidade continua intacta. Continuamos comprando sombrinhas e ampliando nossa fronteira agrícola sobre o Pantanal e a Amazônia como se nada estivesse acontecendo. Temos facilidade em derrubar árvores e dificuldade em plantá-las. Alheia a tudo isso, a Prefeitura de Itajaí acaba de anunciar que vai plantar cem mil pés de flores nos jardins públicos da cidade. Derruba árvores para ampliar os espaços dos carros particulares e, depois, anuncia que vai plantar pequenas mudas de flores decorativas nos poucos canteiros que sobraram. Coincidentemente são flores que costumamos depositar sobre os caixões funerários.