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AS FRENTES DEMOCRÁTICAS COMO INSTRUMENTOS DE RESISTÊNCIA POLÍTICA

Participei ativamente da vida política desde tenra idade. Iniciei no movimento estudantil, passei pela militância partidária e mantive longa carreira profissional no jornalismo político. Nessas cinco décadas fui testemunha de três grandes ações visando à defesa do sistema democrático: MDB, Diretas Já, Frente Ampla Pela Democracia. Essas ações suprapartidárias tinham como característica principal a união de forças políticas, geralmente constituídas oficialmente em grandes partidos políticos, visando preservar, defender e reconstituir o sistema democrático.

A primeira grande ação suprapartidária com a qual convivi como partidário e como profissional da imprensa foi o MDB – Movimento Democrático Brasileiro. O MDB foi constituído em 1966 após o AI-2 – Ato Institucional Número Dois – instituir no Brasil o sistema bipartidário. As forças que apoiavam o governo ditatorial eram representadas pela ARENA – Aliança Renovadora Nacional -, e, a oposição representada pelo MDB. Portanto, o MDB era uma grande frente que abrigava em seu bojo todos aqueles que pretendiam restabelecer o sistema democrático golpeado em 1964. Reunia políticos e militantes da esquerda, centro e direita; de comunistas [como Miguel Arraes] a liberais [como Ulisses Guimarães].

Em 1983 a Ditadura da Arena havia perdido todo o apoio popular e não tinha mais condições de se manter no poder com uma linha autoritária que ainda permitia a sobrevivência legal da oposição. Sem apoio popular a Ditadura da Arena ficou em uma encruzilhada histórica, com duas alternativas: abrir para o sistema democrático, fechar radicalmente para constituir um regime totalitário. A ditadura branda, autoritária, já não era mais possível porque o povo estava nas ruas e praças e, o MDB começava a ganhar todas as eleições regionais, de governador a prefeito, de senador a vereador.

Foi nesse ambiente hostil ao autoritarismo que surgiu, em 1983, a Emenda Dante de Oliveira, exigindo do Congresso Nacional a volta da eleição direta para presidente da República. Na movimentação político-popular surgida no entorno da votação da Emenda Dante de Oliveira foi possível a criação de uma frente ampla visando restituir o sistema democrático. A derrota da Emenda no Congresso, fez surgir uma candidatura de oposição forte para combater o candidato da Ditadura da Arena no Colégio Eleitoral. Na eleição indireta ficou a disputa Paulo Maluf versus Tancredo Neves, com a vitória do oposicionista Tancredo Neves. O retorno ao sistema democrático era uma questão de tempo.

Agora, em 2022, vejo surgir novamente uma composição política suprapartidária visando à manutenção do regime democrático, ameaçado pelo avanço eleitoral das forças conservadores, representadas nestas eleições pela candidatura do presidente Jair Messias Bolsonaro. A Frente Ampla Pela Democracia é constituída por Lula [PT], Geraldo Alckmin [PSB], Ciro Gomes [PDT], Simone Tebet [PMDB], Fernando Henrique Cardoso [PSDB], Marina Silva [Rede Sustentabilidade / PSOL] e lideranças de diversos setores da sociedade brasileira, do esporte à economia.

O simples fato dessa frente se fazer necessária e viável já demonstra o ambiente político que atravessa o país.  O MDB e o movimento das Diretas-Já, enquanto frentes em defesa da democracia, surgiram em momentos de extrema tensão, onde a democracia estava completamente debilitada. Agora, não é diferente. Se a democracia não estivesse realmente ameaçada a Frente Ampla Pela Democracia, contando com FHC e Lula, Marina Silva e Alckmin … jamais seria possível.  Quando essas forças e personalidades se juntam é porque chegaram à conclusão de que se faz necessário deixar de lado as divergências para lutar em defesa de algo maior, no caso a democracia. Dessa forma, a simples existência de uma Frente Ampla já fala por si sobre o tempo político em que vivemos.