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Duvido, logo penso!

Estamos adentrando uma nova era na história da humanidade. Estamos diante da realização de tudo o que a ficção científica sempre nos apresentou como uma distopia futura. A máquina está conquistando seus ares de humanidade e ganhando a capacidade de pensar como um ser humano.

O primeiro sinal sobre a derrubada das fronteiras entre máquina e ser humano foi dada no ano de 1996 quando o computador da IBM – com o sugestivo nome de Deep Blue [azul profundo] – venceu uma partida de xadrez do insuperável Garry Kasparov. Fez mais, no ano seguinte, atualizado, venceu o match contra Kasparov, selando por definitivo a quebra das fronteiras entre inteligência natural e inteligência artificial. Estava dada a largada para o estabelecimento da Era da Inteligência Artificial.

Agora, em pleno ano de 2024, vejo uma foto de autoria do francês Jerome Brouillet onde o surfista brasileiro Gabriel Medina paira no ar ao lado de sua prancha sobre uma gigantesca onda do mar do Taiti – praia de Teahupoo – onde estavam sendo realizadas as provas de surf das Olimpíadas de Paris. Ao ver a foto fiquei na dúvida sobre sua veracidade. Depois, pesquisando na Internet tive a confirmação de se tratar de foto verdadeira. O fato retratado na foto é verdadeiro.

Desta minha dúvida inicial me adveio um questionamento sobre a minha própria postura diante da mídia atual. Devido ao uso exagerado de ‘fake news’ durante as campanhas eleitorais e, também, nas redes sociais em todos os tempos, comecei a perceber que a minha tendência inicial é sempre duvidar de fotos, vídeos e textos noticiosos cujos conteúdos sejam considerados ‘poucos prováveis’. Foi assim, por exemplo, quando vi uma foto do governador de Santa Catarina com as mãos apoiadas nas nádegas da esposa de um ex-presidente. Comecei a perceber que, dia após dia, cada vez mais fiquei propenso a duvidar das imagens por conta do grande número de manipulações que estão sendo feitas mundo afora.

A coisa ficou tão séria que os grandes conglomerados de notícias resolveram criar serviços especiais para garantir que tal informação ‘não é fake news’ ou, ao contrário, alertar seu leitor de que se trata de ‘fake news’. Neste ano eleitoral de 2024, parece que o uso da IA – Inteligência Artificial – para manipular fotografias e até mesmo modificar o discurso de um político vai dar o tom de muitas campanhas Brasil afora.

Na Era da Inteligência Artificial, portanto, a primeira vítima é o consumidor de informação. Este terá, sempre, de duvidar. Terá de criar um mecanismo próximo da ‘dúvida sistemática’ de Renée Descarts.  No mundo atual a máxima será “Duvido, logo penso !” [Magru Floriano].

Apagão cibernético global

A ficção científica sempre nos apresentou distopias as mais dramáticas possíveis. Na Era Digital a distopia mais corriqueira é aquela que apresenta um mundo em colapso devido a uma pane geral no sistema de computação ou o controle deste mesmo sistema por um robô que ‘traiu’ o seu criador. Pensar em um apagão geral é realmente um pesadelo, porque nos dias atuais tudo, absolutamente tudo, está ligado à rede global dos satélites e computadores. Sem ela não funciona de aeroporto a semáforo na esquina da nossa casa.

Bem, acontece que no dia 29 de julho de 2004 a humanidade teve uma pequena mostra de que esta distopia, até então prevista apenas nas peças de ficção científica, é algo possível de acontecer. A imprensa chamou o fenômeno de ‘Apagão internacional’, ‘Pane global’, ‘Apagão cibernético global’, e, poeticamente, de ‘apagão azul da morte’.  A referência à cor azul deu-se pelo fato de que os telões dos aeroportos ficaram todos azuis, sem qualquer dado para apresentar aos passageiros que esperam sua hora do embarque.

A pane do sistema ocorreu por conta de uma atualização mal-sucedida no sistema de uma empresa privada nos Estados Undios de nome Crowd Strike. Uma desconhecida dos bilhões de mortais que costumam levar suas vidas sem se importarem com o mercado de ações nas bolsas de valores mundiais. Mas, a invisível Crowd Strike promoveu uma ‘espiral de telas azuis’ pelo mundo inteiro, parando por completo aeroportos, portos e até bancos no Brasil. [Magru Floriano]