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A NOVA LITERATURA ITAJAIENSE E A POÉTICA DE SANDRO SILVA

Aproveitei a Feira do Livro do V FLI – 5ª Festival Literário de Itajaí – para colocar a minha coleção de autores itajaienses em dia. Ao todo consegui agregar à minha biblioteca vinte exemplares. Até agora, já li dois livros de prosa de André Soltau, o livro infantil de Dalila Weiss, os livros de poesias de Samuel Costa e Clarisse da Costa; Giovanni Sagaz; India Alves; Mabel Pessoa Spindola; Eliss Castro… estou lendo o livro de poesias de Sandro Silva. Ao ler a literatura contemporânea itajaiense fiquei com a sensação de que o trabalho autoral dos escritores locais está ganhando uma qualidade excepcional. Na poesia, por exemplo, são admiráveis os textos de Eliss Castro e Sandro Silva.

Sandro Silva, o Sandrinho do Diário do Litoral, remete seu leitor a uma viagem regressiva à poética de Bento Nascimento. Esses dois escritores têm muita coisa em comum, mas destaco o determinismo poético estabelecido a partir de insights contendo sempre a mesma lógica jocosa, com um tom de comicidade que insinua um modo de vida ‘a la Chalaça’. Esse estalo súbito que tanto inspira os poetas – Bento e Sandrinho – tem na sua essência uma carga enérgica de chiste, facécia, gracejo, fazendo com que o poema, mesmo que sério, fique perdido no limbo, entre o triste e o alegre, entre o trágico e o cômico … indefinidamente. O ponto comum entre os poemas de Bento e Sandrinho é justamente essa gênese irreverente. São, portanto, frutos de lampejos, ‘raios que caem de céu azul’ ornamentados por chistes espirituosos.

Claro que Bento e Sandrinho são pessoas bastante diferentes. Quem teve a oportunidade de conviver com os dois sabe muito bem dessas diferenças. Diferenças que estão bem definidas nos próprios versos desses escritores. Bento vivia no extremo da liberdade pessoal e para esse seu território anárquico conduzia sua escrita. Retratava em seu comportamento o cinismo filosófico de Antístenes e Diógenes e não se envolvia muito a sério com nada, de sexo à política. Sua literatura, portanto, era uma peça solta no ar, pura manifestação de seu espírito livre e criador. Já, Sandro Silva tem um histórico de comprometimentos sociais, fazendo que sua literatura esteja sempre engajada.

Ler Sandro Silva, portanto, nos deixa com a impressão de que estamos lendo um Bento Nascimento que resolveu, do dia para a noite, se engajar em causas sociais. Acho, de certa forma, que a literatura de Sandro Silva leva vantagem em relação à literatura de Bento Nascimento. Isso porque, Sandro pega algo muito bom de Bento Nascimento, que é esta mágica de aproveitar insights jocosos para compor versos livres, leves e espirituosos, mas … mas, acrescenta a eles doses generosas de engajamento, de comprometimento com causas sociais emergentes. Eu gosto … e gosto muito!

 

‘Alguns esperam amores.

Outros que a lua apareça,

Cheia e linda.

 

Ela, no ponto,

Cansada da vida,

Só espera o ônibus.’