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DIÁLOGO DE MEMÓRIAS

Lendo o livro ‘Egídio Narciso, presença que não se apaga’ – autoria de Janete Narciso de Souza, Raquel Narciso Rosa, Humberto Rebello Narciso – tive uma das sensações mais incríveis que um leitor por sentir: perceber que sua memória está dialogando com as memórias dos autores do livro. Na medida que a leitura ia avançando, fatos relatados no livro iam se intercalando com fatos guardados na minha memória desde a infância.

O nome Egídio Narciso sempre foi uma constante na minha casa durante toda a infância. Meus pais e parentes tinham Seu Egídio como uma entidade, alguém que merecia destaque devido sua simpatia e carisma. Na família de minha mãe Seu Egídio era mencionado na condição de empregador, já que meus tios José Ramos Garcia [Zé Ramos] e Maria de Lourdes trabalharam na tradicional Casa Narciso – instalada na rua Hercílio Luz. Minha tia Dilma Garcia, por sua vez, era uma das costureiras de confiança de Seu Egídio e Dona Esther, muito recomendada para fazer os vestidos das clientes que compravam tecidos na Casa Narciso.

Na família de meu pai os Narciso eram lembrados por laços familiares. Meu tio, Pedro Floriano dos Santos, casou com uma irmã de Egídio, Tia Bentinha. Eles residiam no Rio de Janeiro, visto que Pedro era embarcado em navios de longo curso, fazendo regularmente a rota da Europa e América do Norte. Os Narciso costumavam passar férias na casa de Tia Bentinha, no Rio de Janeiro. Como meu pai, por longos períodos, também foi embarcado na Costeira, Alliança e Lloyd Brasileiro, com seus navios tendo o porto do Rio de Janeiro como principal base no Brasil, era comum utilizarem as frequentes viagens dos Narciso para troca de informações.

Esse conhecimento familiar levou meu pai, Sebastião Floriano dos Santos, a comprar a ideia de Egidio Narciso de investir em imóveis. Ele comprou de Egidio diversos lotes em Navegantes e Itajaí. Só não me recordo se os lotes que tinha em Balneário Camboriú também foram comprados do Egídio Narciso ou do Leopoldo Zarling. De qualquer forma o conceito de investimento meu pai adquiriu nas conversas que mantinha com Egídio Narciso. Nem sempre, obviamente, meu pai saiu completamente satisfeito com as compras que efetuara. No caso dos terrenos em Navegantes e Balneário Camboriú, por exemplo, lembro muito bem dele reclamando que o investimento não se pagava, já que os impostos iam aumentando muito mais do que a valorização do próprio imóvel. Sebastião pensava a curto prazo, enquanto Egidio pensava no longo prazo. Meu pai acabou vendendo esses terrenos por preços irrisórios, só pra se livrar dos impostos municipais – terrenos que hoje valem verdadeiras fortunas. O lado bom disso tudo é que ele usou o dinheiro que ganhou na venda dos lotes nas praias para comprar lotes em Itajaí. No final, imóvel por imóvel, ficou razoável para o Sebastião.

Ao término da leitura, fiquei um tempo com o livro na mão rememorando tudo o que passei na vida que, de uma forma ou de outra, estava ligado a Casa Narciso. Todas as minhas calças e camisas eram feitas pela costureira da família – Tia Dilma – e, os tecidos eram comprados, a maioria deles, na Casa Narciso, onde trabalharam o Tio Zé e a Tia Maria de Lourdes. E, por último, a ideia recorrente vinda dos diálogos com minha mãe, Julita Garcia dos Santos. Para ela, a Dona Esther era uma das mulheres mais elegantes da cidade.