No dia 24 de fevereiro os democratas brasileiros comemoram a passagem dos noventa anos da conquista do direito ao voto pelas mulheres. Foi nessa data que o presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto de número 21.076, alterando o Código Eleitoral para consagrar às mulheres esse direito elementar da cidadania. Uma luta que tem seu primeiro capítulo no ano de 1891, quando foi votado e recusado o pedido de emenda à Constituição para garantir às mulheres o direito ao voto. Em Itajaí, a luta das mulheres iniciou no ano de 1929 por iniciativa de Ignez Oliveira, consolidado em 1933 quando Anna Zibardi Rodi depositou seu voto numa urna.
Em Itajaí, como nos demais municípios brasileiros, a mulher tinha seu papel restrito ao lar. O jornalista Juventino Linhares representa muito bem essa cultura de época ao escrever no jornal O Pharol de 1928:
“Não pode existir cousa mais pittoresca do que mulher votar. É o mesmo que homem pregar botão na camisola de creança, passar a ferro as toalhas da mesa ou ir para a cosinha botar pão de lot em panella de barro […] Só podem ser favoráveis a essa história de voto feminino, os homens Maricas que vestem calças por engano e as mulheres de bigode que usam vestidos por distracção.”
Não obstante essa cultura enraizada entre gente de todas as classes sociais, a ideia de dar às mulheres direitos de cidadania plena foi ganhando campo até que membros do Partido Liberal Catharinense resolvem montar um comitê feminino para propaganda dos ideais liberais democráticos em agosto de 1929. Logo depois, às portas da Revolução de Trinta, a secretária Ignez Oliveira requer seu alistamento eleitoral e declara voto ao oposicionista José Eugênio Müller. O juiz nega o pedido, mas seu ato pioneiro corre como rastilho de pólvora pelo território catarinense. Com a vitória dos revoltosos de 1930 a mulher ganha a condição de eleitora. Em Itajaí, o primeiro voto feminino oficial foi de Anna Zibardi Rodi, na eleição de maio de 1933.
A história do Poder Legislativo itajaiense evidencia essa dificuldade da mulher conquistar seu lugar na cadeia de comando social. Neoflides Vieira Wendhausen ocupou a cadeira de vereadora em 1950 e somente em 2001 Jussara Panplona foi eleita a primeira mulher presidente da Câmara de Vereadores de Itajaí. No Poder Executivo os obstáculos enfrentados pelas mulheres são os mesmos. O eleitor itajaiense elegeu Eliane Rebello e Dalva Rhenius vice-prefeitas, mas ainda não deu a oportunidade de uma mulher sentar na cadeira de prefeita da cidade. No Poder Judiciário o destaque fica por conta da juíza Sônia Moroso Terres que por anos consecutivos respondeu como diretora do Fórum da Comarca de Itajaí. [magrufloriano2008@gmail.com]