Condomínio Riverside – Rio do Meio

Dia desse fiquei surpreso, ao transitar pelos corredores da Univali, com a presença de tapumes de obras no local onde estava instalada a Lanchonete do Pedro. Um cartaz anunciava, para breve, um novo estabelecimento comercial. Para mim foi um choque porque a Lanchonete do Pedro era sinônimo de Univali, afinal de contas foram 43 anos de atividades ininterruptas. Mas, o mesmo sentimento temos quando caminhamos pela Rua Hercílio Luz, pela área portuária, pela zona rural … por Itajaí. Tudo muda numa velocidade tão extraordinária que dificulta nossa assimilação no mesmo tempo que nos exige a cidade. Do dia para a noite nos é exigido que coisas consolidadas em nossa vivência cotidiana passe automaticamente para a memória, como recordações de um passado que para nós ainda teima em ser presente.

Como nos é possível pensar a Univali sem a Lanchonete do Pedro? A Rua Hercílio Luz sem a Pastelaria Marilú e a Casa Irmãos Coelhos? A área portuária sem os pequenos bares e a Praça do Gonzaga? Nunca a cidade sofreu tantas mudanças em tão pouco tempo. Mudanças que roubaram o espírito comunitário da Rua Hercílio Luz, o ambiente boêmio da área portuária, o clima bucólico da área rural, o estilo de pequena cidade estabelecido numa vasta área periférica. Em dez anos Itajaí ganhou quase cinquenta mil novos residentes. Para abriga-los, casas vão ao chão para dar lugar a edifícios de trinta andares na Vila Operária, Dom Bosco, Fazenda, Cordeiros …. No interior, sítios e chácaras vão dando lugar a condomínios fechados de luxo – uma tendência que começou pela localidade do Rio do Meio.

E o Porto? Quanto da cidade ele precisa abocanhar para se manter economicamente viável pelos critérios da logística internacional? Agora, está iniciando o processo de engolir todo o trecho entre a rua Blumenau e a Canina até a Rua Max. Vai parar por aí? Vai poupar a Praça Gonzaga? Com uma mão enche o prato com quinhões de terra do Centro e Bairro São João; com a outra mão, pega ligeiramente pedaços generosos das margens das rodovias federais e estaduais. É um gigante, um verdadeiro titã, que não para de crescer. A cidade já está em plena titanomaquia e, ao contrário do que ocorreu na cosmogonia grega, está perdendo a guerra.

O que dizer, então, da Praia Brava? Aquilo ali já foi lixão de Balneário Camboriú, área de desova de ‘presunto’ e zona do meretrício. A praia era tão brava e perigosa que ninguém se aventurava em banhar-se nas suas águas. Muito das suas terras foi surrupiado por invasores inescrupulosos – que entupiram o Fórum da Comarca com usucapião e filigranas jurídicas até as cercanias do final do século vinte. Agora, é extensão do processo desenfreado de desenvolvimento de Balneário Camboríu. O ‘new point’, o ponto de ‘glamour’ e sofisticação da orla marítima de Santa Catarina. Morar na Praia Brava é sinal de status, requinte e bom gosto.

Ver um prédio de trinta andares em plena rua Indaial, no São Judas, portanto, é como ver o Farol de Alexandria em dia de neblina. Um edifício que agora está sozinho, dominando a paisagem, mas que logo ali na frente, terá as sombras de outros edifícios ainda maiores. Nos sentidos figurado e real, o céu é o limite. Se possível, o melhor é ir se acostumando.