Recentemente, três membros da minha família anunciaram que começaram a instalar equipamentos para coleta de energia solar em suas residências e estabelecimentos comerciais. Ali no bairro São Judas, na periferia da cidade, olho para a casa da minha irmã e vejo o seu telhado já tomado por placas brilhantes vindas da Alemanha. É o futuro se consubstanciando no presente. Contudo, fazendo um triste contraponto com este cenário de alto desenvolvimento tecnológico, os ladrões e os mendigos continuam nas esquinas da cidade. Uns, levando nossos celulares; outros, nossas moedas.

Minha geração viu o telefone fixo ser substituído pelo celular, a máquina de escrever pelo computador, a carroça pelo carro. Viu a Internet jogar na lata do lixo as enciclopédias Barsa e Delta-Larousse; o fim da era dos jornais impressos; as antenas de TVs dando lugar aos cabos de fibra ótica ou imagem por satélite; as TVs mostrando no mosaico mais de cem canais. E dizer que bem pouco tempo atrás eu era feliz vendo televisão duas horas por dia, quando era possível ‘pegar’ o sinal nas antenas caseiras sustentadas por varas de bambu.

Mas, agora, olhando para o telhado da casa de minha irmã na periferia da cidade, vendo-o todo coberto com placas coletoras de energia solar, fico pensando: qual será a próxima coisa do futuro que traremos para o nosso presente? Será o robô nosso mascote? Qual a próxima tecnologia que fará sua encarnação, sua passagem, entre futuro e presente para nos assombrar? O que o futuro está nos reservando para o nosso presente? Entregas domiciliares com drone; extinção de todos os documentos físicos de identificação e reconhecimento fácil; fim do dinheiro em cédula e moeda, cartão de crédito e débito … Será que estaremos, logo ali na frente, eliminando o prato de comida para incorporar o hábito ‘lunático’ de comer cápsulas?

Presentemente constato que o futuro chegou até mim de uma forma muito rápida. Quem sabe até, estou invertendo as coisas, pois teria sido eu que cheguei ao futuro apressadamente. A verdade é simples e direta como o é a realidade: tudo aquilo que se especulava em termos de conquista tecnológica na minha infância e juventude virou realidade diante dos meus olhos. Eu vi surgir no meu cotidiano o telefone e o celular; a televisão a cores, a cabo e por satélite; o carro elétrico e computadorizado; o xerox e o off-set; a máquina elétrica IBM e o computador; filmadoras, rádios e gravadores portáteis. Eu vi o disco de vinil sendo substituído pelo CD e DVD; a máquina fotográfica de filme sendo substituída pela máquina digital e, depois, pelo celular. Mas, agora já tem o drone que tudo vê, fotografa e filma …. e até mata.

Tudo o que era futuro para mim enquanto criança e adolescente, agora, é realidade. Muitas coisas, inclusive, já estão até ultrapassadas. Dia desse me desfiz de uma coleção de CD e fitas VHS, máquinas fotográficas digitais de pequeno porte, rádio portátil AM, máquina de escrever, TV de válvula … objetos que foram parar em mãos de colecionadores, esses aliados incondicionais de Chronos. Nessa caminhada eu andei de carro-de-mola, táxi e Uber. Andarei em um carro voador? É como se eu saísse da cidade dos Flintstones para visitar os Jetsons. É como se estivesse entrado dentro de um livro de Júlio Werner virando um de seus personagens. Eu estou vivendo no meu próprio futuro.