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Adeus ao Dinheiro

Ninguém tem mais dúvida de que o dinheiro vivo – em cédula e moeda – vai deixar de circular ainda nesta década. Chegaremos em 2030 sem dinheiro no bolso. Essa tendência que, à primeira vista, parecia ser de longo prazo, passou a ser uma tendência de médio prazo a partir da pandemia do Covid e a criação do PIX, no ano de 2020.

Neste ano, as pessoas das classes mais abastadas e escolarizadas já tinham decidido deixar o dinheiro físico de lado em troca das comodidades do dinheiro eletrônico – à mão do usuário através de cartões magnéticos e aplicativos de aparelhos celulares. Mas, em novembro o Banco Central do Brasil lançou o PIX e incluiu no sistema financeiro nacional quase 72 milhões de usuários. O Governo Federal colocou todos os assistidos com programas sociais do Estado no sistema eletrônico, levando esse enorme contingente de cidadãos invisíveis ao sistema bancário nacional a terem acesso a um celular e uma conta bancária digital. Agora, as classes menos favorecidas recebiam seus auxílios governamentais com dinheiro eletrônico.

Como eu gosto muito de fazer experiências nesse setor que envolve mudança social através do implemento de novas tecnologias, resolvi todo mês pegar uma quantia de dinheiro físico no banco e tentar pagar contas com cédulas e moedas. No início, ainda em 2021, tinha dificuldade de pagar contas em padarias e supermercados com notas mais altas, duzentos e cem reais. Mas a partir de 2022 comecei a perceber a dificuldade em pagar com presteza qualquer conta independente de valor. A dificuldade maior ocorrida quando da necessidade de moedas. A primeira moeda que sumiu por completo dos caixas foram as pequeninas moedas de um centavo. Depois, sumiram as moedas de cinco centavos. Por último, sumiram todas as moedas.

O sumiço das moedas era o prenúncio de uma tendência irreversível. Agora, em pleno ano de 2024, quando puxo a carteira e apresento dinheiro físico alguns caixas demonstram espanto e até certa irritabilidade, porque sabem que vão ter problemas para arrumar o troco correto para me entregar. Nos supermercados é comum o caixa apertar o botão da luz vermelha para chamar o assistente de caixa, para poder trocar notas maiores por notas menores e até conseguir algumas preciosas moedas. Nos restaurantes tornou-se usual os caixas arredondarem as contas, para fugir ao supremo sacrifício de conseguir notas de baixo valor e moedas. A partir deste ano, não lembro uma vez que tenha apresentado uma nota de cem reais a um comerciante que não tenha de perder mais tempo do que um usuário de cartão. Geralmente um caixa acode ao outro ou uma pessoa de apoio é acionada, como os tradicionais assistentes de caixas e até os gerentes.

O caso mais extremo que vivenciei este ano ocorreu na Drogaria Catarinense. Fui fazer uma compra na loja da Rua Hercílio Luz e ao apresentar o dinheiro físico o caixa simplesmente me comunicou que não tinha como me dar o troco e desfez o registro da minha compra. Insisti, dizendo que tinha o direito de pagar com dinheiro de circulação nacional e ele simplesmente disse-me: ‘Hoje é domingo, não tenho como conseguir o troco para lhe dar”. Encerrada a conversa, sai sem a mercadoria apesar de ter o dinheiro para compra-la. No mês de agosto, em duas oportunidades fiquei devendo no caixa do restaurante onde almoço com regularidade. Motivo: “não temos troco, fica no fiado”.

Então é isso, quem deseja se incomodar no comércio que utilize dinheiro físico para pagar suas contas. Por enquanto ainda estão aceitando os cartões magnéticos. Acontece que as maquinazinhas de cartões também estão com seus dias contados. Tenho notado uma certa tendência entre os integrantes das classes mais abastadas e escolarizadas a utilizarem o celular pelo sistema de aproximação para pagar todas as contas. Nem dinheiro, nem cartão magnético, teremos apenas dinheiro eletrônico acessado através do celular.

Adeus dinheiro. Quando alguém quiser ver uma raridade dessas que procure um colecionador. Isso já havia acontecido com outras peças que passaram a ser consideradas peças históricas, como é o caso do selo, ficha telefônica e o belíssimo cartão postal. [Magru Floriano – 2024].

O FUTURO ESTÁ PRESENTE

Recentemente, três membros da minha família anunciaram que começaram a instalar equipamentos para coleta de energia solar em suas residências e estabelecimentos comerciais. Ali no bairro São Judas, na periferia da cidade, olho para a casa da minha irmã e vejo o seu telhado já tomado por placas brilhantes vindas da Alemanha. É o futuro se consubstanciando no presente. Contudo, fazendo um triste contraponto com este cenário de alto desenvolvimento tecnológico, os ladrões e os mendigos continuam nas esquinas da cidade. Uns, levando nossos celulares; outros, nossas moedas.

Minha geração viu o telefone fixo ser substituído pelo celular, a máquina de escrever pelo computador, a carroça pelo carro. Viu a Internet jogar na lata do lixo as enciclopédias Barsa e Delta-Larousse; o fim da era dos jornais impressos; as antenas de TVs dando lugar aos cabos de fibra ótica ou imagem por satélite; as TVs mostrando no mosaico mais de cem canais. E dizer que bem pouco tempo atrás eu era feliz vendo televisão duas horas por dia, quando era possível ‘pegar’ o sinal nas antenas caseiras sustentadas por varas de bambu.

Mas, agora, olhando para o telhado da casa de minha irmã na periferia da cidade, vendo-o todo coberto com placas coletoras de energia solar, fico pensando: qual será a próxima coisa do futuro que traremos para o nosso presente? Será o robô nosso mascote? Qual a próxima tecnologia que fará sua encarnação, sua passagem, entre futuro e presente para nos assombrar? O que o futuro está nos reservando para o nosso presente? Entregas domiciliares com drone; extinção de todos os documentos físicos de identificação e reconhecimento fácil; fim do dinheiro em cédula e moeda, cartão de crédito e débito … Será que estaremos, logo ali na frente, eliminando o prato de comida para incorporar o hábito ‘lunático’ de comer cápsulas?

Presentemente constato que o futuro chegou até mim de uma forma muito rápida. Quem sabe até, estou invertendo as coisas, pois teria sido eu que cheguei ao futuro apressadamente. A verdade é simples e direta como o é a realidade: tudo aquilo que se especulava em termos de conquista tecnológica na minha infância e juventude virou realidade diante dos meus olhos. Eu vi surgir no meu cotidiano o telefone e o celular; a televisão a cores, a cabo e por satélite; o carro elétrico e computadorizado; o xerox e o off-set; a máquina elétrica IBM e o computador; filmadoras, rádios e gravadores portáteis. Eu vi o disco de vinil sendo substituído pelo CD e DVD; a máquina fotográfica de filme sendo substituída pela máquina digital e, depois, pelo celular. Mas, agora já tem o drone que tudo vê, fotografa e filma …. e até mata.

Tudo o que era futuro para mim enquanto criança e adolescente, agora, é realidade. Muitas coisas, inclusive, já estão até ultrapassadas. Dia desse me desfiz de uma coleção de CD e fitas VHS, máquinas fotográficas digitais de pequeno porte, rádio portátil AM, máquina de escrever, TV de válvula … objetos que foram parar em mãos de colecionadores, esses aliados incondicionais de Chronos. Nessa caminhada eu andei de carro-de-mola, táxi e Uber. Andarei em um carro voador? É como se eu saísse da cidade dos Flintstones para visitar os Jetsons. É como se estivesse entrado dentro de um livro de Júlio Werner virando um de seus personagens. Eu estou vivendo no meu próprio futuro.