È muito difícil alguém passar por uma casa com telhado no estilo ‘mansarddach’ sem que tenha a curiosidade aguçada. Afinal, a casa ganha uma estética diferenciada, mais pomposa, destacando as janelas do sótão. A invenção desse tipo de telhado é atribuída ao arquiteto francês Fançois Mansart [1598-1666] mas ele foi muito utilizado pelos imigrantes de origens alemã e italiana em todo o Vale do Itajaí. Segundo definição de Angelina Wittmann, o telhado de mansarda é constituído por “… panos de telhados dobrados (no Brasil chamado de água) na parte inferior, de tal maneira que a superfície inferior da cobertura, geralmente um sótão, existe em declive mais íngreme do que a parte superior. Duas inclinações diferentes no pano de telhado. Este tipo de disposição de duas inclinações cria um espaço adicional no sótão.”

Sempre que passo por uma casa com ‘telhado de mansarda’ recebo uma profusão de  informações vindas do passado, através das lembranças de vozes, cheiros, imagens, sensações as mais diversas. Elas são oriundas do meu tempo de criança, quando passava regularmente minhas férias de inverno no sítio de meus tios na localidade de Machados, no antigo bairro de Navegantes, acessando o outro lado do rio através da passagem da balsa na Barra do Rio. Os Duarte tinham uma casa com este tipo de telhado, com várias águas, formando um sótão mais espaçoso e vistoso.

Como o meu tio era dono de venda, o espaço a mais que a ‘mansarda’ dava ao sótão era reservado para depósito de mercadoria a granel. Uma grande caixa de madeira, com compartimentos estanques para depositar milho, arroz, feijão … ficava à frente de nossas camas. Estas, contendo colchões de palha de milho, com travesseiros preenchidos com pena de aves domésticas. São esses cheiros que me invadem a mente quando avisto uma casa de mansarda. Também vem à lembrança a vista da janela do sótão para a rua geral dos Machados, ainda em terra batida. Chego a escutar o barulho dos meus pés subindo os degraus da escada de madeira e as vozes dos meus primos e suas brincadeiras corriqueiras antes de dormir – incluindo a tradicional guerra de travesseiros.

Aqui em Itajaí ainda consigo ver algumas casas com telhados de mansarda, nas áreas urbana e rural. Recentemente foi demolida a casa da família de Pedro Muller, na rua Anita Garibaldi. Mas, resiste ao tempo uma linda casa localizada na rua Pedro José João – rua geral do Matadouro. A família Furtado mantém uma casa com telhado de mansarda ‘cortado’, em plena avenida Joca Brandão. A mais destacada dessas casas era de propriedade da família Pereira e ficava às margens da Estrada para Florianópolis, depois nomeada de Rodovia Osvaldo Reis, quase ao pé do Morro Cortado. Na frente da casa tinha uma grande figueira que acabou dando a denominação de Figueirinha para toda a localidade.

No interior, volta e meia encontramos uma casa dessas perdida na paisagem.

casa da Família Muller – rua Anita Garibaldi.

 

rua Pedro José João – rua geral do Matadouro

 

Casa da Família Pereira – Av. Sete de Setembro – demolida.

Itaipava

casa comercial na rua Uruguai

Comércio da Família Pereira às margens da rodovia Osvaldo Reis – 1971.

Casa da Família Furtado na avenida Joca Brandão.