Magru Floriano*

Nos últimos tempos tive diversas oportunidades em ouvir falar de programas que estão utilizando AI – Inteligência Artificial – para desenvolver inúmeras tarefas no mundo digital, algumas delas no campo das artes. Mais recentemente ouvi falar do ChatGPT e, aproveitando a experiência em computação do meu filho Thiago Floriano – Analista de Sistema – resolvi dar algumas tarefas ao robô inteligente, testando fundamentalmente sua capacidade criativa. Fiquei impressionado com a rapidez das respostas e o potencial criativo de todo o sistema. Como não poderia deixar de ser, também fiquei um pouco assustado, pensando no futuro da arte com essas máquinas aprendendo a realizar obras autorais.
Das diversas tarefas solicitadas, por incrível que pareça, só avaliei como inválidas duas respostas: a primeira, foi a resposta dada à questão ‘Quem é o fundador do Município de Itajaí/SC?’ Considero a hipótese do ChatGPT ter misturado informações da Itajaí – em Santa Catarina -, com uma localidade no interior da Bahia que também responde pelo mesmo nome; a segunda, foi a resposta à questão ‘Quem é o escritor Magru Floriano’. Nesse caso, perdoei o robô por não me conhecer. Afinal, ele é jovem e não lhe faltará oportunidade para isto.
De resto, chega a ser assustador o nível de resposta que o robô forneceu. Pedi para escrever uma poesia sobre ‘tempestade’ e em segundos enviou uma extensa poesia com rimas: ‘O céu se torna escuro e cinzento / O vento sopra forte e violento / Os raios rasgam o firmamento / E a chuva cai sem cessar um momento …’. Pedi para refazer incluindo a palavra ‘escuridão’ e recebi um poema com o seguinte final: ‘E assim, a tempestade passa / Deixando a paz que não se esvai em massa / E o mundo retoma sua trajetória / Guardando na memória a força da Escuridão’.
Resolvi sofisticar um pouco mais a minha relação com o ChatGPT e apresentei a ele a seguinte questão: ‘Escreva variações deste verso mantendo a ideia original: Quando a opressão se impor a arte será liberdade’. Ele me enviou a seguinte resposta em segundos: “Quando a tirania prevalecer, a arte será nossa libertação. / Quando a censura nos calar, a arte será nossa voz. / Quando a opressão nos desumanizar, a arte será nossa humanização.” Também pedi para ele escrever um novo poema a partir desse verso. Respondeu: “Como um gripo que ecoa pelos ares / Como um sopro que liberta mendes / Como uma luz que ilumina caminhos / A arte será a nossa força, a nossa resistência.”

Em seguida solicitei que escrevesse uma mensagem de parabéns pela passagem do Dia Internacional da Mulher para que pudesse enviar à minha esposa e ele respondeu em tom de intimidade: ‘Claro, aqui está uma sugestão de mensagem: Querida Sílvia …”. Depois, resolvi propor uma tarefa um pouco mais complexa e pedi o roteiro de um curta-metragem tendo como tema a busca por ouro no Vale do Itajaí. O início da resposta é surpreendente: “CENA 1: PLANO ABERTO – MONTANHAS DE ITAJAÍ – Vemos as montanhas de Itajaí, em Santa Catarina, envoltas em uma leve neblina. A câmera se aproxima de uma montanha específica, o Monte Taió, onde se diz que há muitas riquezas escondidas”.
Para completar o teste propus tarefas um pouco mais burocráticas: ‘Escreva uma legenda para uma foto do Museu Histórico’ e ‘Altere as hashtags para usar no site História de Itajaí’. Ambas as respostas foram muito satisfatórias.
Como despedida do nosso primeiro encontro pedi algo que, sinceramente, não esperava que ele respondesse. Propus: ‘Faça uma receita de tainha recheada com pinhão’. Ele além de me oferecer uma receita sofisticada, apresentou todos os passos necessários para a atividade e, no final, disse: ‘Bom apetite!’.

No final de tudo fiquei com a sensação de que estava sentado em um sofá no meio da rua. Algo estava fora da ordem …
Obs: texto publicado na revista ‘Sopa de Siri’, maio 2023, nº 250, pag. 27.